MENSAGEM DE SUA MAJESTADE À LUSOFONIA

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Roma, 09 de Julho de 2020.


Micronacionalistas da Lusofonia:


Cumprimentando-os cordialmente decidi por dirigir-me, diretamente, a cada um dos senhores e das senhoras para refletir, um pouco, sobre nossa prática e o momento atual desse tão fantástico, viciante e até mesmo irritante hobby. Enfim, muito já foi dito sobre a tal "crise do micronacionalismo lusófono" ao longo de alguns anos, mas de uma forma ou de outra, cá seguimos todos, cada um com seu modelo, com seu projeto micronacional.

Nesse sentido, acredito firmemente que é necessário que consigamos pontuar, apesar de nossas diferenças, algumas balizas fundamentais sobre a prática micronacional. Acredito, de modo bastante pessoal e firme, na pluralidade de modelos como uma das grandes riquezas criativas do micronacionalismo. Se todos concordássemos com tudo, ou se fôssemos rigidamente iguais que graça teria?

Isso posto, posso não concordar com as práticas desse ou daquele indivíduo, ou com os rumos dessa ou daquela micronação, mas respeito as escolhas da mesma forma que espero ver aquelas de meu país e de todos os países igualmente respeitadas. Infelizmente vivemos uma época - e não é só no micronacionalismo - em que a barbárie, o ódio e a deselegância infelizmente dão até lucro e recebem até mesmo os aplausos fanáticos de toda sorte de lambe-botas.

Quando entrei no micronacionalismo, em 05 de Janeiro de 2002, o hobby era diferente do que é hoje em alguns aspectos. Creio até que, em certo nível, era tudo muito mais "artesanal". Não tínhamos as facilidades técnicas que vemos hoje. Era uma época em que o micronacionalista tinha, de fato, de comportar-se de modo bastante autodidata. Como tal, não poderia ser diferente: a pluralidade de modelos era algo excepcionalmente estimulante.

Havia toda sorte de modelos micronacionais. Lembro de alguns que, pela originalidade, marcaram minha memória, como o Reino Teocentrista de Valquíria, do grande Ivan Mola, que chegou a criar uma religião micronacional, da República Socialista de Sloborskaia e suas corridas de Chocobos, da República de Marajó e da República de Mallorca, ambas bastante ativas, do Cordial Reino de Kelterspruf, do enigmático e necessário Sir Igor McCord, do Grão-Ducado de Chuberry, entre tantos países que tinham modelos bastante distintos.

E adivinhem? Eram TODAS micronações. Ainda que muitas não possuíssem relações diretas umas com as outras, eram todas micronações, e poucos tentariam discutir que alguma delas não representavam uma prática válida da plural e rica microconstelação lusófona. Porém, havia um respeito mínimo, por exemplo, com relação a territórios e símbolos, enfim, não era visto com bons olhos criar algo sobre o que já existia.

Não pensem, contudo, que era um mar de rosas, as tensões e discussões eram intensas, mas é um hobby e para qualquer um com um mínimo de consciência e senso do ridículo, entendia que, como hobby, não se tratava de tentar destruir ninguém. Claro que, nem todos tem consciência, enfim, no plano de uma sociedade sempre há o fantasma da incivilidade e do barbarismo.

Contudo, meus caros e caras colegas micronacionalistas, o que me move, como Chefe de Estado de uma micronação, a escrever esta mensagem pública, é a necessidade de que saibamos, minimamente exercitar a arte civilizatória do respeito. Cada micronação aqui tem seu próprio conjunto idiossincrático e, portanto, enquanto civilização, existe. Entretanto, todas as micronações participam de um mesmo universo comum, o micronacionalismo, e é preciso que possamos coexistir.

Não se trata de que espere eu que todos nos sentemos em volta de uma fogueira cantando "kumbaya", mas que consigamos encontrar um ponto tal que possamos nos respeitar como pessoas civilizadas. É sempre bom destacar, afinal, que a Terra não é plana, o homem foi à Lua, a Guerra Fria já acabou e o Micronacionalismo não é A ou B, mas plural.

Isso posto, não idolatrem, não se curvem, mas respeitem-se. Aliás, que possamos todos exercitar o ato civilizacional do respeito. Se sua micronação é um projeto sólido e bem construído, não é preciso que afirme isso como um mantra, basta vivenciar tal projeto e as coisas se encaminharão bem.

Enfim, caros e caras colegas micronacionalistas, perdoem-me se de alguma forma os irritei ou fui inconveniente, mas é preciso, talvez mais do que em outros tempos, que cada projeto aqui representado entenda que pode encontrar seu espaço, dentro do respeito mútuo com os projetos já existentes e com o acolhimento não imperial daqueles que ainda irão surgir.

Não há modelo melhor ou pior, isso é um descalabro supor. Não pode haver atitude imperial ou coercitiva sobre modelo A ou B, é preciso que dentro de nossas diferenças e disputas - necessárias - exista, pelo menos, o respeito civilizacional.


Atenciosamente

Obrigado por vossas mensagens, caríssimos. Sempre é recompensador quando os italianos comentam os pronunciamentos da Coroa. E este, em particular, diz respeito a necessidade de destacar, de modo firme, a pluralidade de modelos no micronacionalismo.

att