AAH - Clube de Debate Político

Lí,


Eu tive sorte, pois mesmo na escola pública, as questões eram discutidas abertamente. Mesmo nas aulas de OSPB e EMC havia a discussão dos dois lados da moeda, embora 04 alunos de 30 prestavam atenção, todos queriam decorar para fazer a prova.

Eu não sofri nenhuma ideologização, seja de esquerda ou de direita, as coisas eram postas como eram, nuas e cruas.

Lembro de uma discussão sobre o aborto, houve um rocha na sala, cada um com seus argumentos, defenderam seus pontos de vista de forma livre e respeitosamente. Foi uma discussão mais rica do que tive na faculdade anos depois.


Uma curiosidade: nas ultimas eleições eu fui mesário e ouvir algumas histórias, lembro de uma senhora que votou contra Dilma porque ela não podia pagar uma empregada doméstica, outros votaram na Dilma com medo de perder a bolsa família ou por ter um Smartphone bacana.


Essa realidade aqui é muito gritante.

Você disse tudo Fernando, na minha época antes Lula também tínhamos debates em sala de aula muito abertos, houve até um dia em que um aluno se masturbou no banheiro para que pudêssemos estudar o espermatozoide no microscópio.

Nas eleições de 2002 eu votei no Lula por amplos debates dentro de sala de aula por meu professor se historia. Ficar achando argumentos para forçar uma crença de golpe "seja lá qual nome se de" é procurar pelo em ovo.

Mas como disse em outra postagem me recuso a falar de politica pois pareço ser o único que enxerga como algo bom essa mudança politica, pois usando a lógica como aqui me ensinaram, agora a nova oposição que é a esquerda vai cair matando para denunciar o situação. Já caíram 2 e logo outro politico cai, é como um dominó onde um vai empurrando o outro até sobrar apenas os que prestam. Aja visto a defesa assídua da esquerda quanto ao projeto que tentou passar despercebido na Câmara onde daria anistia a todos que haviam praticado caixa 2, acham que se não fosse o impeachment esses deputados iriam ser totalmente contra?

Mas essa mudança é demorada e me assusta ver mentes que sempre defenderam um olhar amplo de todas as situações buscar se fechar apenas ao seu ponto de vista sem olhar cada detalhe, sem para e refletir pera ai será que isso é tão rui assim. Preferem procurar pelo em ovo.

Como disse a mudança será demorada mas eu, ingenuo talvez, acredito nela. Precisa se mudar pois como vimos nos noticiários de ontem, com a fala de um próprio PTista, quando o Lula foi citado como réu pelo Dr. Sérgio Mouro, eles estão preocupados e como isso pode afetar a campanha politica do Lula para 2018 e não em mostrar para a População que não houve crime algum por parte dele.

Quanto ao debate em si que foi desvirtuado erroneamente para politica, eu acredito que o povo Brasileiro é muito reclamão. Reclamam de aumentar a idade para aposentadoria mas quando chega a hora de se aposentar se aposentam e continuam trabalhando tirando a vaga de um jovem que está no inicio de carreira e precisa crescer. Reclamam desse projeto de lei (se for verdade por que procurei e nada achei) mas se o empregador precisar de alguém para fazer horas extras são os primeiros a se prontificar (mesmo que essas horas sejam convertidas em banco de horas e dado folga), se o cara ta sem emprego e age como autônomo trabalha até as 22:00 mas se entra em um serviço se acomoda e quer fazer apenas as 44 horas semanais. No meu ultimo emprego antes de concursar, fazíamos todos os dias 15 minutos a mais para na sexta sairmos uma hora mais cedo, podíamos fazer meia hora para sairmos duas, podíamos fazer 2 horas a mais para não trabalharmos na sexta e digo pra vocês todos aceitariam pois havia a vantagem de termos um final de semana maior. Com apenas os 15 minutos todos nós gostávamos pois tínhamos uma hora para ir no comércio, pagar as contas fazer contas novas em compras. Mas sempre quando alguém entrava reclamava desses 15 minutos a mais, mas assim que viam o beneficio na sexta mudavam de conceito, o que é novo assusta e temos a triste cultura de reclamar primeiro e analisar depois.

Enfim nossa cultura é essa e dificilmente será mudada.

Júlio,

Se por um lado falar de política no Brasil significa "chover no molhado" por outro, não falar, significa colaborar com a perpetuação do erro do "não diálogo", que na verdade não cai bem para a democracia. Concordo que o problema seja, sobretudo, cultural, e justo por isso reafirmo: quem sonha com um pais melhor, passagens para a Finlândia custam entre U$ 600,00 e U$ 900,00. E não há muito que fazer sobre isso.

Vocês tiveram "alguma sorte" sobre o momento educacional que viveram. Mas é preciso ir além disso em uma totalidade, primeiro pois se está citanto questões científicas, e nossa educação científica é uma "coisa" que não pode ser confundida com "liberdade de exposição para educação humanitária". Eu estudei em uma escola até à oitava série onde se tinha um vasto laboratório contendo, inclusive, fetos humanos, e alunos de sexta série (naquela época já chamávamos assim) já tinha contato com este material. Porém, nesta mesma escola uma professora de ciências foi banida, literalmente, por tentar falar sobre métodos contraceptivos em uma sala onde três adolescentes já se encontravam grávidas. Assim, se faz preciso separar algumas coisas e não as confundir, especialmente ao que toca os nossos anos 80, 90 e até meados de 2000. Não confundam a sistematização científica adotada pelas escolas com liberdade de discurso! Pois se o fizerem vão incorrer no mesmo erro que vai quem crê que no período ditatorial não se tinha corrupção.

Quando entrei para o ensino médio, na melhor escola pública de BH, tinha lá uma excelente biblioteca, um laboratório de química, outro de física, outro de biologia... E fazíamos todos os tipos de "investigações" e experiências ali. Inclusive, tinha-se dois professores de cada uma destas matérias, um para a sala de aula e outro para o laboratório. Porém, nas aulas de Sociologia e Filosofia não se podia dialogar abertamente sobre quase nada! E as aulas de História e Geografia eram um aglomerado de datas e gráficos jogados no quadro. Entendam esta diferença, ela é crucial para começar a entender a mudança que existiu na educação, pois, foi a partir do governo Lula que se teve uma abertura para os assuntos humanos, agora, o que comprometeu o andamento do aspecto cientificista da educação foram outras coisas! Até porque a mesma liberdade dada às humanas sempre se assegurou para as matérias exatas e científicas. Há muita coisa ai, Não pequem por achar que a escola dos anos noventa era mais livre do que a atual, pois ela não era.

Muito dos aspectos que culminaram com uma piora da educação científica veio, pelo menos aqui em MG, de planos da direita política que flexibilizou a possibilidade de pessoas não formadas lecionando, e isso trouxe uma quebra na qualidade dos profissionais que atuam nas escolas. Outro aspecto é que a geração dos anos 80 e 90 eram mais preparadas para assistir as aulas, isso de uma forma geral. Temos ainda a falência das escolas públicas que aqui em MG se deu com o "choque de gestão" do governo do Aécio Neves que simplesmente estrangulou todas as escolas estaduais e desmontou praticamente todos os laboratórios. A predominância do pensamento religioso mais conservador e extremo também vem dificultando, a ponto de já termos aqui, escolas ensinando criacionismo. Então há muita coisa ai a ser investigada antes de tomar as posições de "era melhor e mais livre pois um aluno cortou o dedo para vermos o sangue..."

Agora, sobre política em si...

Não é sobre a mudança em si, é sobre como ela se deu e a que ela se deu, e também, como ela se deu. Vou tentar explicar: não é o fato de ter mudado, é o fato de ter mudado em situações absolutamente questionáveis. Não é o fato de terem movido um processo com base em uma "pedalada" que nem sei se ficou claro a alguém. É o fato de nunca terem feito isso com governador algum! Então, natural surgirem dúvidas e questionamentos sobre a fragilidade que, sim, leva ao entendimento de Golpe Branco.

Há muita coisa aí, mudar pode ser bom, se a mudança for para melhor, mudar para pior não é bom. Não é o atual presidente, é o fato do atualmente presidente ter se tornado presidente em uma situação absolutamente questionável de um ponto ético! Não é o fato de terem votado assim ou assado para o processo, é o fato de existirem na votação elementos muito conflitantes. Temos envolvimento de grandes industrias, denuncias de propinas, aviões particulares levando gente para votar, votos em meio a processos... Então é tudo muito nebuloso.

Não é procurar "pelo em ovo" é se questionar: por que não há um questionamento ético? Por que não se questiona, também, a posição de quem está ficando no poder? Por que se parou de investigar algumas pessoas em detrimento da investigação de outras? Por que não há um questionamento dos atos? Por que vem existindo uma supervalorização de juízes "estrelas" - todos eles, diga-se de passagem, com alguma coisa obscura sendo maquiada (um ap. ali no exterior, um envolvimento no interior...).

Então tempos, a situação partidária da imprensa não sendo questionada, temos todo um congresso envolvido em corrupção sem ser questionado e posto a prova, temos partidos de direita usando "brechas" para se fixarem no poder. Temos inversão de situações políticas e uma "caça às bruxas" sendo feita a alguns partidos e não a todos. Temos, os problemas sociais engessados... Então, temos coisas demais ai para não reclamar e achar que está tudo bem e que tudo foi certinho e isso mesmo. Pois ai sim, é deixar de ver o todo para focar em uma parte, e usar dela para tapar todo resto, aproximando-a bem dos olhos e achar que isso é bom.

Assim, no fim das contas:

Sou a favor de se tirar um presidente por causa de um erro, por menor que seja? Sim sou! Mas não posso sê-lo se, antes, não forem tirados os outros que cometeram erros iguais ou maiores.
Sou a favor da concretização de um processo que retira uma pessoa do poder? Sou, sim. Mas não posso sê-lo se, antes, não se concretizarem os processos nas outras pessoas que também estão em poder.
Sou a favor de se votar para tirar um presidente corrupto? Sim, sou. Mas não posso sê-lo se este voto for ministrado por pessoas que, igualmente, estão envolvidos em corrupção.
Sou a favor de mudança de cenário político? Sim, sou! Mas não posso sê-lo sem questionar todos os elementos que circundam esta mudança. Sob pena de incorrer no erro de mudar para pior.

Não sou de direita pois não acredito que os homens devam servir ao Estado, e não sou de direita política brasileira pois não acredito que a maior parte da população deva se matar para servir a um "Estado" partidário e que sustenta uma minoria elitista. Mas este pensamento não faz de mim, exatamente, uma pessoa de esquerda. Apesar de que eu tendo a concordar que é o Estado que deva servir ao povo.

Sobretudo acredito que, importante, para nossa sociedade é a busca por mudança cultural. E isso, hoje, é mais difícil. E talvez a grande questão sobre todo o discurso político no Brasil de hoje, tirando toda a purpurina, todo o foguetório, todo o flame e panelas e gritos rubros, seja justamente isso: a possibilidade de mudança cultural. Pois acredito que a úncia coisa que pode mudar o Brasil para um Brasil menos pior é a mudança cultural. E hoje, com o governo atual, o rumo é o de termos maior dificuldade em mudar a cultura. E é o que precisamos mudar, a meu ver.