COMUNIDADE CRISTÃ DE ÀVOLA

Bom dia Kelly,


Por onde andas você?


Vosso,

Depois de ler uma conversa alheia, me surgiu a seguinte questão:

O que é pecado?

Estar aberto a todos o questionamento.

Caro Fernando, como ainda não me expressei aqui no Reino em assuntos religiosos, gostaria de aproveitar este importante tema e abordá-lo n' O X DA QUESTÃO desta semana, que aliás, estou devendo.

Fernando,

Independente de qualquer opinião ou crença que se tenha, a antropologia, a história e a filosofia (e conjunto com elas a "recente" sociologia) veem mostrando que o conceito de pecado é um fenômeno sócio-cultural estruturado para uma época específica e que se modifica, mesmo dentro de uma crença delimitada, através do tempo. Ou seja, o que é considerado como pecado para uma crença 'x' hoje, não é exatamente o que ela considerava pecado há 500 anos e nem com a mesma intensidade.

Neste sentido a pergunta para a sua resposta só é possível se estruturarmos a pergunta de outra forma, por exemplo: "o que é considerado pecado hoje para um grupo 'x' que manifesta a moral e crença 'y' no cristianismo - ou outra crença - dentro da interpretação 'z'?". Passa a ser importante esta estruturação na pergunta para saber o que é pecado hoje e para quem, pois, como disse, de maneira histórica sabemos que isso é mutável (de pessoa para pessoa, de tempo histórico por tempo histórico, de interpretação de texto por interpretação de texto, de texto para texto...). Assim como também é mutável em razão econômica, sócio-cultural, moral...

Além disso tudo, temos que considerar que, sendo o pecado uma construção moral, seus conceitos se basearão na construção ontológica (ou melhor dizendo, na construção cultural ontológica do ser). E é importante (até vital) o debate neste sentido para que se possa, de maneira saudável, separar o que é pecado do que é crime, para que não se puna o gosto (e para que se permita pecar, aquele que não comunga de sua crença). Evitando ai a chacina que historicamente já vimos baseada em preconceitos ou conceitos morais. Por ser moral e por isso ser ontológico e portanto ser "próprio do ser" (ou criação em pensamento do ser) temos que ter cuidado e "carinho" com este debate para discernir sobre ele e evitar que a loucura seja tida por "inspiração divina". Nossa história está repleta de exemplos terríveis onde isso acontece.

Um dos exemplos disso vimos de maneira bastante enfática num interrogatório daquele "ultimo carrasco nazista" que defendeu seus atos sob a alegação de "estar cumprindo ordens". Entende o ponto onde a crença moral (de uma pessoa específica) é absorvida como "ditame divino" e passa a justificar qualquer atitude de um terceiro (para este terceiro)? Ou outro exemplo aparece numa entrevista real que foi transformada para o filme sobre o Charles Manson, onde é questionado a um de seus seguidores o motivo dele o ter seguido e o seguidor responde: "que acreditava que ele fosse Jesus Cristo".

Então, a discussão sobre o que é pecado é importante e precisa respeitar a história a fim de evitar que pensamentos de loucura possam continuar modificando as crenças de maneira nociva. E claro, respeitar tudo que sabemos sobre diferenças religiosas, diferenças de crenças, diferenças morais, construções históricas e filosóficas... Estando nós em um mundo onde crianças são apedrejadas por estarem com uma roupa 'x' de uma crença 'y', esta discussão sobre pecado, dentro das religiões, participando do conhecimento desta estruturação e baseando-se nos fatos históricos e filosóficos, é vital para o desenvolvimento de crenças saudáveis.

Pecado mesmo é o Tabu. Há certas regras sociais que são praticamente universais, causando ojeriza de um canto ao outro do mundo.