Caverna Filosófica Night Pub

Exatamente assim, no plural, as Cavernas de Platão! De origem a alegoria da caverna traduz a ideia de que existem pessoas dentro de uma caverna, estas pessoas estão acorrentadas, e não se viram para os lados e não saem de seus lugares. De frente para uma parede tais pessoas observam sobras que são projetadas por uma fonte de luz, uma chama, por exemplo. E desta forma, dentro desta caverna, sempre vedo as sombras projetadas, as pessoas ali entendem que toda a verdade são aquelas sombras!

Desta origem supõe-se uma caverna, na qual pessoas acorrentadas aceitam sobras de uma suposta realidade como verdade, e como verdade sobre tudo. A ideia de liberdade começa a existir quando Platão se faz entender que, é preciso romper com as correntes, sair da caverna, e assim ver o mundo “lá fora”. Alerta que não é simples ou fácil, que os olhos vão se queimar ao Sol, os sentidos irão se embaralhar, novos fenômenos serão conhecidos... E se a pessoa buscar voltar para caverna e tentar libertar outras, possivelmente, será morta por elas.

Para a realidade de Platão, sair desta caverna significaria a liberdade, mas, hoje, nesta atualidade conflituosa, as dimensões da caverna se modificam. Não há mais apenas uma caverna platônica, e sim, diversas! Aqui o conceito de caverna se envolve e mistura aos conceitos de “bolhas sociais”, e pode-se muito bem sair de uma caverna e entrar em outra, pulando de cavernas para cavernas. Ou, se pode se perder na busca por saída aceitando como realidade outros pontos não conhecidos da caverna onde se está. Sair das cavernas não é tão simples quanto simplesmente encontrar a luz que indicará o “fim do túnel”. E nem tão pouco causará apenas um desconforto visual, encontro de outros fenômenos, embaralhar de sentidos... Sair da caverna irá requerer uma grande investigação do conhecimento, e do conhecimento correto: lógico-racional. O combate às falácias, aos achismos, aos jargões, às fases de efeito, da pseudo-ciência e o entendimento de opinião como tal. E trará profundos conflitos: rompimentos, distanciamentos, lutas, reinvindicações...

Muitas cavernas se encontram ao nosso redor, como as igrejas, por exemplo. Templos onde as pessoas estão condicionadas, imóveis em seus lugares, fixas e fixadas, de frente para uma sombra projetada por chamas, e que pretende ser a única verdade. As salas de estar, onde, imóvel no sofá, se absorve da tela mágica toda a verdade sobre o mundo! Ou as telas dos smartphones onde influenciadores mantém as pessoas fixas, sem olhar para os lados, e ditam a elas a única verdade. Até mesmo as salas de aulas, na precária estrutura de ensino, fixam seus alunos, os impedem de olhar para os lados, de construir empatia, de debater diferenças e projetam e os colocam de frente para algumas únicas verdades a serem decoradas.

Cavernas surgem ao nosso redor, como Gremlins em um dia de chuva, e hoje, atualizadas para a versão “bolhas millenials” se envolvem em uma espécie de buraco negro que vai mantendo as bolhas em sua órbita enquanto suga as mais próximas de seu centro para se juntarem em enormes bolhas sociais. De forma que não é mais tão simples apenas sair de uma caverna, mas sim, afastar-se o suficiente para ver o aglomerado de bolhas, entende-las em suas dimensões e realidades, pois alguma surgem exatamente para sobreviverem ao caos e à força do buraco negro, e de fora delas buscar se manter ali, para então, entendendo uma situação de “Nada”, construir não uma “nova bolha”, mas uma forma correta (lógica-racional) ética e, sobretudo, nova de vida.

Não é mais sobre conhecer o mundo, é sobre conhecer a si. Não é mais sobre mudar o mundo, é sobre mudar a si, para que forma autêntica, e ainda que usando as influências conceituais das bolhas que se observa, se possa verdadeiramente construir uma nova forma de vida, autêntica, única, que portanto se somará plural e assim permitirá as desconstruções dos cânceres do mundo.

O termo “queer” surge no cenário americano como um pejorativo para pessoas tidas por transviadas ou transgressoras dos papéis de gênero e sexualidade. Numa tentativa de entendimento adaptativo, este termo englobaria outros pejorativos, no português termos como “viadinho”, “sapatão”, “traveco”, seriam termos próximos daqueles que, culturalmente, surgiam ali no contexto que forma a palavra “queer”.

Neste contexto e para além de “apropriações de termos” se esboça no EUA, na década de 80, estudos sobre gênero, sexualidade e performatibilidade social destes. Entre os nomes envolvidos na construção da “teoria queer” estão Foucault que vai surgir como um influenciador. E, mais proeminente nos estudos das performatibilidades de gênero, Judith Butler e também Sara Salih que vão a teoria como tal e como vem se desenvolvendo.

Em si a teoria queer surge como uma teoria sobre comportamento e performance de gênero, abordando a ideia do gênero e seus comportamentos como elementos de constructo social, no sentido de entender que não há um papel real e rigoroso, ou “original” ou ainda “pré-determinado” ou determinado do gênero na sociedade. No início de seu desenvolvimento a teoria queer parte de visões feministas e lésbicas, nas desconstruções do gênero e de como, o gênero é socialmente entendido como uma performance do que se faz, do gênero em si.

O impacto direto desta teoria surge nos grupos de gays, lésbicas, bissexuais e transgênero, porém, ao se envolver em contornos político-sociais, a teoria queer evolui para outras questões como: a performatibilidade em si do gênero em sociedade e sua reinvindicação em meios sociais regidos por preconceitos e discriminações que tentam impor noções engessadas e determinadas de gênero e de como isso precisaria existir dentro de um contexto de binariedade determinada, aliada, especialmente, às alienações religiosas sobre sexo, sexualidade e gênero.

Para além das questões lésbicas, gays, bissexuais e transgêneras a teoria questiona a performance de gênero social, o feminino, o masculino, e nisso passa a abordar e incluir corpos que irão desencadear movimentos questionadores de culturas opressoras. Uma mulher, ainda que cisgênero e heterossexual que opte por si mesma, em seu processo único de construção e de vivência de sua feminilidade, de parar de se depilar, passa a construir um corpo transgressor da imposição de um feminino forjado e passa a se tornar um “corpo queer”. Um corpo que expõe e constrói a performance de uma feminilidade muito além dos ditames normativos.

Da mesma forma, homens que se maquiam, que se depilam, que vistam o que querem e assim passam a construir uma masculinidade nova e inovadora, transgressora e transviada, rompendo com a construção da masculinidade tóxica, independente de suas questões inerentes de gênero e sexualidade, passam a se tornar “corpos queer”. Corpos com curvas, com pesos diferentes, que assumam em si suas características singulares e as valem delas para sua performatibilidade, a fluidez do gênero, a performance, a quebra em si da alienação religiosa e social do gênero e da sexualidade, acabam constituindo as partes políticas e sociais do que hoje estamos chamando e estudando como “teoria queer”.

Ingredientes:

Amigas verdadeiras e sinceras (assim, no plural!) – pense em pessoas iguais a você! E se você não se der com pessoas iguais a você, bem, “algo de podre no Reino da Dinamarca”.

Autonomia – algo como ganhar o suficiente para te possibilitar viver de forma digna, sanar suas necessidades e poder manter o acesso ao ingrediente um.

Momentos de reflexão – para que você saiba escolher o ingrediente um, usar o ingrediente dois com sabedoria, e, principalmente, aprender a cozinhar!

Modo de preparo:

Cuide muito bem do ingrediente um, ele é vital para a receita! Precisa ser muito bem escolhido e tratado! Se ele desandar, nada mais dará certo!
Empenhe com sabedoria para manter o ingrediente dois, ele não pode te consumir, estar em excesso, aparecer mais que o primeiro, senão, vai azedar!
Use bem o ingrediente três! Se não for bem usado, vai queimar!

Junte todos os ingredientes dentro de si, prepare diariamente a receita, pois ela dura pouco tempo! Consuma várias vezes ao dia, em um ciclo de boa alimentação! Toque-a, esteja com ela, viva-a... Assim mesmo de forma física, de contato! Ou, em tempos de quarentena, se não der para ter o contato, de todas as melhores formas que conseguir! Acompanhe com a bebida que mais gostar, mas, com cautela! Bebidas alcóolicas são voláteis para a receita, Epicuro preferia água...