Projeto Pensamentos

Já viu Black Mirror? Eu sugiro o primeiro episódio.

Só hoje vi que este projeto existe, nem tinha lido aquela consideração sobre a propaganda, muito boa por sinal, não creio valer a pena entrar em méritos de discussões. Mas vou dizer uma coisa sutil (ou não) no cerne do ódio da cultura brasileira está o pensamento de que "tudo é válido" desde que "não me incomode", quem viveu os anos noventa sabe do que estou falando. Em outras palavras: "não sou racista, apenas não gosto de preto". "Não tenho preconceito contra gays, apenas não quero ver a existência deles". "Nada contra quem é cético, mas nós que acreditamos em Deus estamos salvos". "Não sou machista, mas mulher tem seu lugar".... Enfim, anos noventa!

Sobre a possibilidade de recuperar o ser humano, bem, sou cética né? Então, cada caso é um caso, único e individual. Vai ser coisa de caso a caso, que só o tempo vai mostrar. Temos casos de cantores que se envolveram com tráfico, de pastores que vendem indulgência e possuem vasta lista criminal, incluindo hediondos, políticos-heróis-machões-corruptos... Então me parece um negócio bastante complexo!

Enfim, sucesso ao projeto.

Estou adorando essa série, nos faz refletir sobre vários aspectos, também gostei muito do primeiro episódio, mas gostei ainda mais do segundo episódio da segunda temporada.

Atenciosamente,

É uma série interessante sim! Especialmente vejo a "pegada" da crítica e da reflexão da participação do indivíduo na construção da sociedade que ele, geralmente, não gosta.

Aliás, você chegou a ver Sense8?

Direitos dos Bandidos?


Há muito tempo que ouço nas ruas, nas redes sociais e em parte da mídia que no Brasil os Direitos Humanos são Direitos pra Bandido. Essa percepção da grande massa parte do conhecimento empírico e da plena sensação de insegurança. Mas o que dizer dos mais esclarecidos? É uma falsidade intelectual? Mau-caratismos? Ou não aprenderam nada na Academia?


Os últimos dias escancarou a velha realidade do nosso sistema carcerário, onde a criminalidade organizada mostra os dentes ao executar rebeliões e assassinatos em massa, denunciando a corrupção nos altos escalões dos três poderes.


Nunca houve preocupação do Estado em equilibrar a falta de cadeias com o aumento da criminalidade, seja por acreditar que ”BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO”, seja por medo da opinião pública (como justificar um gasto maior em prisões do que em escolas?), por isso vivemos essa realidade que não tem a menor perspectiva de melhora, pelo contrário.


Eu vou dar minhas opiniões sobre o assunto, espero que todos participem, começando sobre o que é a finalidade de uma prisão.


Cesare Beccaria escreveu o celebre livro Dos Delitos e Das Penas que traz uma reflexão para que serve aplicação da pena, não vou entrar no contexto do livro, mas sim da minha compreensão do assunto.


A cadeia serve para ressocializar aquele que cometeu crime, lhe cerceando um dos bens mais preciosos: a liberdade. Se eu não quero recuperar o preso, não adianta prende-lo, melhor aplicar a pena de morte da forma mais barata possível.


Somos todos passiveis de cometer erros, todos podem matar e por isso devemos responder pelos nossos atos e pagar a “pena” devida para que no futuro não voltemos a reincidência. Ao aplicar a pena ao individuo, os demais membros da sociedade tomarão conhecimento que tais atos são passíveis de represália Estatal e devem assim evita-los.


Nossa realidade tupiniquim nos revela que a pena não serve pra nada: não cércea a liberdade, não ressocializa e muito menos mete medo a alguém. É um estrondoso fracasso.


Mas nem tudo estar perdido, assiti nesses últimos dias uma reportagem sobre uma prisão modelo (privada), tudo limpinho, o preso estuda, trabalha, se profissionaliza e já sai com “emprego garantido”, uma situação muito melhor que nós aqui fora. É um absurdo? Não, queremos que a criminalidade diminua e que menos pessoas tenham seus direitos lesados em qualquer nível e todo esforço para isso é valido.


Precisamos de Cadeias que cumpram seu papel, sem isso, qualquer política de segurança pública é vã e já nasce abortada. Temos que vencer esse senso comum enraizado em uma cultura autoritária e baseado no Direito do Inimigo (falarei sobre em outra oportunidade) e mero rascunho das políticas falidas dos EUA.


Sei que o tema da pano pra manga, mas precisamos pensar e discutir.



Vosso,

Ponto um: no Brasil há uma interpretação equivocada dos direitos humanos pois, no Brasil, há uma concepção cultural equivocada do que é “ser humano”. Então surge um problema: como interpretar corretamente um compendio de direitos se não há uma base interpretativa para a representatividade dos direitos em si mesmos? E esta base nos declarará um conjunto de questões sócio-culturais que transforma a interpretação dos direitos humanos em algo que não objetivará em si a preservação da figura humana.

Ponto dois: nosso sistema penitenciário, como muitas coisas na nossa sociedade, participa de uma concepção “machista-coronelista”, que visa simplesmente excluir da sociedade aquilo que não interessa a ela. Num estilo “varrer a poeira para debaixo do tapete”. Gera um depósito de pessoas em um ambiente pernicioso e que não recupera. Aliás, como pensar em recuperar um detendo se o “louvor” social é “bandido bom, bandido morto”? O que tem “recuperado” bandido no país são igrejas ultra-conservadoras que pegam elementos “de destaque” e os transformam em “heróis da fé”. E a venda da salvação nada mais é que um tráfico sofisticado.

Ponto três: precisamos de escolas que cumpram seu papel, que é a formação integral para a vida em sociedade, e não o treinamento para o concurso pura e simplesmente. Sem escolas que cumpram seu papel – inclusive atropelando a nojeira da tal “família tradicional”, não adiantará sistema prisional sofisticado, arquitetado, privado, polido e derivado!

Ponto quarto: achar que "Forças Armadas" são resposta, que é por ai, que a "Arma" é importante, é, como talvez dissesse Pondé: apenas um inteligentinho tirando a água que entra em um barco com um caneco furado.